1964, Uma reflexão nostálgica
Heloísa Ramirez
Heloísa Ramirez
Com o advento das redes sociais na
Internet, reavivei lembranças do tempo em que participei de alguns movimentos
estudantis das décadas de 60 e 70. Bons tempos aqueles em que a força dos
estudantes universitários era foco de mobilização social e participação ativa
na vida política da cidade, com suas reivindicações legítimas e protestos bem
dirigidos. Não vou retomar aqui a história, mas vale lembrar que com o golpe de
64 as autoridades militares reprimiram as lideranças estudantis e
desarticularam as principais organizações representativas da classe estudantil.
Lembro-me de que foi em 1968 que iniciei
minhas primeiras participações, ingênuas diga-se de passagem, de movimentos de
rua contra a ditadura militar, e só comecei a entender o significado de tudo
aquilo, o fundamento e o mecanismo do que estava acontecendo em termos
políticos, anos depois. Assim, num primeiro momento, fiz parte da grande massa
mobilizada por esses grupos de lideranças estudantis, uma espécie de “Maria vai
com as outras”, antes de ir ganhando alguma consciência política e participação
efetiva.
Recentemente este espírito ressurgiu nostalgicamente
ao me deparar com os movimentos criados e divulgados nas redes sociais como o
ACAMPA SAMPA/OCUPA SÃO PAULO, criado para discutir a redemocratização nacional;
NÃO A BELO MONTE, que questiona a construção da usina, a destruição das
florestas e o deslocamento das populações indígenas; NÃO ao ATO MÉDICO, etc.
Mencionei alguns, mas existem outros pontos de reflexão que nos remetem
diretamente à miséria humana e quase todos consequência da impossibilidade
financeira que distam sujeitos até dos modos de gozo do mundo moderno, que se
servem da dominância do capitalismo.
Foi com espanto que me dei conta do tempo
que estive distante disto tudo, principalmente se pensar o quanto estes
movimentos alimentaram minha juventude e contribuíram para eu me sentir ativa
no processo da construção democratização social. Estive socialmente alienada e
distante de tudo que não fosse à clínica, ocupando-me única e exclusivamente da
psicanálise e sua política, dedicando-me a escutar o sofrimento e o particular
de cada um em seu modo de gozo.
Isto não é uma crítica, foi um tempo meu.
Estive onde o meu desejo esteve!
Mesmo porque, como psicanalista, como um sintoma da cultura, como conseqüência do inconsciente, como falasser, eu não poderia estar tão distante da cultura e da civilização e de suas conseqüências de gozo, afinal sou ser de linguagem!
Ora então, porque não conciliar? Porque
não refletir também sobre os paradoxos da globalização e suas conseqüências?
Foi em Salvador, no Encontro nacional da
Escola dos Fóruns do Campo Lacaniano, em 2011, ao lado do movimento “Ocupa
Salvador” que me bateu uma vontade imensa de retomar algumas participações nos
movimentos sociais. Estava chovendo e eu fiquei no conforto do quarto do hotel
enquanto os colegas se concentraram na praia para fazer acontecer. Eu e Tatiana
Assadi, que assistiu ao movimento na praia, conversamos muito sobre isto
depois.
Será que para participar ativamente, para
escutar o que se reivindica e refletir sobre, seria necessário ir às ruas?
Acho que não! Mas é necessário ir às
“vias” de fato, qualquer que seja o canal.
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