segunda-feira, 10 de setembro de 2012

1964 - Uma reflexão nostálgica



1964, Uma reflexão nostálgica

Heloísa Ramirez

Com o advento das redes sociais na Internet, reavivei lembranças do tempo em que participei de alguns movimentos estudantis das décadas de 60 e 70. Bons tempos aqueles em que a força dos estudantes universitários era foco de mobilização social e participação ativa na vida política da cidade, com suas reivindicações legítimas e protestos bem dirigidos. Não vou retomar aqui a história, mas vale lembrar que com o golpe de 64 as autoridades militares reprimiram as lideranças estudantis e desarticularam as principais organizações representativas da classe estudantil.
Lembro-me de que foi em 1968 que iniciei minhas primeiras participações, ingênuas diga-se de passagem, de movimentos de rua contra a ditadura militar, e só comecei a entender o significado de tudo aquilo, o fundamento e o mecanismo do que estava acontecendo em termos políticos, anos depois. Assim, num primeiro momento, fiz parte da grande massa mobilizada por esses grupos de lideranças estudantis, uma espécie de “Maria vai com as outras”, antes de ir ganhando alguma consciência política e participação efetiva.
Recentemente este espírito ressurgiu nostalgicamente ao me deparar com os movimentos criados e divulgados nas redes sociais como o ACAMPA SAMPA/OCUPA SÃO PAULO, criado para discutir a redemocratização nacional; NÃO A BELO MONTE, que questiona a construção da usina, a destruição das florestas e o deslocamento das populações indígenas; NÃO ao ATO MÉDICO, etc. Mencionei alguns, mas existem outros pontos de reflexão que nos remetem diretamente à miséria humana e quase todos consequência da impossibilidade financeira que distam sujeitos até dos modos de gozo do mundo moderno, que se servem da dominância do capitalismo.
Foi com espanto que me dei conta do tempo que estive distante disto tudo, principalmente se pensar o quanto estes movimentos alimentaram minha juventude e contribuíram para eu me sentir ativa no processo da construção democratização social. Estive socialmente alienada e distante de tudo que não fosse à clínica, ocupando-me única e exclusivamente da psicanálise e sua política, dedicando-me a escutar o sofrimento e o particular de cada um em seu modo de gozo.
Isto não é uma crítica, foi um tempo meu. Estive onde o meu desejo esteve!
Mesmo porque, como psicanalista, como um sintoma da cultura, como conseqüência do inconsciente, como falasser, eu não poderia estar tão distante da cultura e da civilização e de suas conseqüências de gozo, afinal sou ser de linguagem!
Ora então, porque não conciliar? Porque não refletir também sobre os paradoxos da globalização e suas conseqüências?
Foi em Salvador, no Encontro nacional da Escola dos Fóruns do Campo Lacaniano, em 2011, ao lado do movimento “Ocupa Salvador” que me bateu uma vontade imensa de retomar algumas participações nos movimentos sociais. Estava chovendo e eu fiquei no conforto do quarto do hotel enquanto os colegas se concentraram na praia para fazer acontecer. Eu e Tatiana Assadi, que assistiu ao movimento na praia, conversamos muito sobre isto depois.
Será que para participar ativamente, para escutar o que se reivindica e refletir sobre, seria necessário ir às ruas?
Acho que não! Mas é necessário ir às “vias” de fato, qualquer que seja o canal.

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